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Jacarés do Brasil #4 - Paleosuchus trigonatus

Um dos filhos mais queridos da floresta amazônica. Tímido e astuto, escolheu fazer sua morada em ambientes pouco acessíveis pelo homem. De hábitos diurno, crepuscular e noturno, pode permanecer longos períodos embaixo da água como estratégia de defesa.


Diferente dos seus outros “irmãos” crocodilianos brasileiros, não atinge grandes escalas, tratando-se de tamanho. Mas tamanho não é documento, não é mesmo? Nosso camarada também pode ser conhecido por um nome...


Estamos falando do ágil e belo Paleosuchus trigonatus, ou para os íntimos, o nosso belo e enigmático filho da floresta amazônica, jacaré-coroa.

Por onde anda o jacaré-coroa?

Em território nacional, podemos encontrar o nosso jacaré-coroa em áreas contínuas de rios e riachos de floresta Amazônica. No Brasil, a espécie está restrita a este bioma. Observamos o jacaré-coroa nos estados de Roraima, Amazonas, Pará e Rondônia. Saindo do nosso país, podemos encontra-lo, também atendendo pelo codinome “caimão-de-cara-lisa” (vamos entender depois), nos países Equador, Colômbia, Bolívia, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela. Estes países também apresentam grandes habitas amazônicos que são essenciais e ideais, para sobrevivência do jacaré-coroa.


Sabendo da sua enorme importância biológica para o bioma amazônico, ele não foi “besta nem nada”. Tratou logo de escolher um local bem escondido para morar. Desta maneira, é muito difícil obter dados sobre o jacaré-coroa. As suas regiões de ocupação são de difícil acesso para o homem. Mais estudos precisam ser feitos para entendermos o estilo de vida destes incríveis e belos animais.


Mas nem tudo são flores...

A ação do homem

Apesar das escolhas de habitação, o jacaré-coroa, assim como os nossos outros conhecidos crocodilianos brasileiros, também sofrem muito com a ação antrópica (ação do homem).

Lembra que eu falei que no Brasil ele ocorre em áreas de floresta contínua da floresta amazônica?


Então...


Vocês sabem sobre o atual cenário das florestas do nosso Brasil, não é mesmo ? O jacaré-coroa também! E ele assim como os outros animais da região amazônica, estão sendo brutalmente ameaçados por estarem perdendo o seu hábitat.


E isso é MUITO muito sério!


Para uma espécie que só ocorre em determinada região, que precisa de condições específicas para sobreviver, isso é muito ruim. Se ela só consegue sobreviver nestes ambientes, onde mais elas podem habitar/viver? Ou existir?


Exatamente, meu amigo leitor. Não podem!


A perda e fragmentação do seu hábitat, a construção de estradas e rodovias que cortam a nossa linda floresta amazônica e a aproximação antrópica reduzem a área de sobrevivência não só do jacaré-coroa, mas também de outras espécies de animais. Todos são atingidos pelo desmatamento. A instalação de hidroelétricas, a poluição ambiental ligada a prática da mineração, apresenta um impacto considerável nas populações ribeirinhas, influenciando diretamente, também na vida dos nossos queridos crocodilianos.


Não podemos esquecer também outro fator importante.


Com a construção de vias e estradas, temos a habitação por famílias, população ribeirinha. Essa mesma população impactada pela poluição ambiental oriunda da atividade com mineração, também ocupa um papel importante na predação do jacaré-coroa. Essas famílias acabam caçando como recurso de subsistência e de maneira acidental o Paleosuchus trigonatus (também encontrado em redes de pesca e anzóis). Muitos indígenas também fazem o uso da prática de caça para alimentação.


Mas nem só de ameaças vive o jacaré-coroa. Ele também vive de amor.

Os jacarés e suas dimensões

“Diferentão” de outros jacarés no Brasil, ele apresenta um tamanho mais “compacto” em comparação com as outras espécies de crocodilianos que já falamos anteriormente.

O tamanho máximo para o nosso colega, é de 2,3m (isso nos livros – a vida real é diferente), porém, raramente os machos ultrapassam os valores de 1,7m e as fêmeas, em sua maioria, ficam menores que 1,4m (medindo da ponta do focinho até a ponta da cauda).


Atingindo a idade “adulta”, o jacaré-coroa vai começar a pensar em construir uma linda família. A idade mínima para começar as “aventuras amorosas“ do macho é de 20 anos. Já as fêmeas, começam bem antes, aos 11 anos



É HORA DE ENTENDER O AMOR CROCODILIANO DO JACARÉ-COROA

Amor crocodiliano

Estes animais são mais tímidos, lembra? Logo não são fãs de grandes eventos, aglomerações. Podem ser encontrados sozinhos ou aos pares e se estão aos pares...


Hum...


Podemos ter um romance rolando por aí (ou não! Depende da época do ano também).

E após o romance, um novo ciclo se inicia. As novas “mamães do pedaço”, preparam-se para o período mais delicado do ano: a postura dos ovos. O período para a ovipostura acontece entre os meses de agosto e setembro, no finalzinho da estação seca.


Os ninhos são compostos de restos de plantas, galhos, matéria em decomposição, pedregulhos, tudo compactado formando um “monte”. Essa pilha de material, pode chegar a 60cm de altura e 150cm de diâmetro. Muito semelhante também aos ninhos de Paleosuchus palpebrosus (Não lembra dele? Oxeeee, pois clique aqui para recordar).


O número de ovos por ninho pode variar entre 10 a 20, e o período de incubação é um dos mais longos entre os crocodilianos, podendo passar dos 100 dias! Na construção e manutenção dos ovos, existe uma coisa muito importante para a saúde do ninho, a temperatura! Já foi observado a construção de ninhos próximos a cupinzeiros, que funcionam como uma importante fonte de calor e proteção, já que os ninhos acabam recebendo pouca insolação direta dentro da floresta, e a maior parte de variação de calor é ocasionada pelas chuvas.

O calor que define

Já sabemos que a temperatura é um fator importante, não é mesmo ? Mas isso também influencia no sexo dos bebês! Yes! Isso mesmo. É a temperatura quem vai ditar as regras na proporção de nascimentos de machos e fêmeas. Com temperaturas mais baixas, entre 28 a 30 o C, teremos uma produção de 100% de fêmeas e em temperaturas mais altas, a cima de 32 o C teremos a produção de machos. O ideal é um balanceamento destas temperaturas (fica a dica!).


O Paleosuchus trigonatus, assim como os outros jacarés do Brasil, contam com características próprias que influenciam também, na escolha do nome “popular”. A escolha do nome jacaré-coroa, é caracterizada pelas elevações que podemos observar na parte superior das palpébras (elevações pontudas mesmo).


Observamos também uma cabeça curta, pequena, côncava e resistente! Por essas elevações, temos daí o nome “coroa”, mas pela caracterização do seu focinho liso, brilhante, comprido e reto, também temos outra indicação de nome: o “caimão-de-cara-lisa”. Quando jovens, podem apresentar uma coloração amarronzada com manchas mais claras. Já adultos os adultos são bem mais escuros.


Cadeia alimentar do Paleosuchus trigonatus

Assim como os outros jacarés, o jacaré-coroa também fazem parte de uma rica cadeia alimentar. Estes animais quando filhotes, se alimentam de pequenos invertebrados (caranguejos, caramujos, camarões) e pequenos peixes. Os adultos já se alimentam de presas maiores. No seu cardápio podemos observar pequenos vertebrados terrestres como anfíbios, serpentes, pequenos lagartos e até aves e pequenos mamíferos, assim como também, peixes.


EU SEI QUE VOÇÊS JÁ SABEM, MAS É IMPORTANTE LEMBRAR...


Todos os jacarés, tanto os que vivem no Brasil como em outros países, contam com uma dieta bem diversificada. Vocês notaram? Pois é! Os hábitos alimentares se modificam com a fase de crescimento do animal.


Mas uma coisa não muda...


O ser humano não está no cardápio do jacaré. Nenhuma das espécies presentes no mundo inteirinho vai preferir comer um ser humano há um delicioso peixe, ou outro animal. Isso acontece por vários motivos, um deles é que realmente não estamos na lista de do “ifood” do jacaré.


Outro motivo é que não deveríamos ter um contato tão próximo com ele, mas devido ao desmatamento e invasão do homem no ambiente natural do jacaré, esse contato acaba acontecendo (de maneira infeliz). Um outro motivo importante é o medo. Isso mesmo! Os jacarés sempre vão evitar confrontos conosco. E isso faz todo sentido, não é mesmo?


Com essa “fama”, os jacarés estão completamente certos em fugir de nós, em um encontro direto. Então se você encontrou um jacaré por aí, fique tranquilo. Não toque, não se aproxime e nem tente manipular o animal. Informe para os órgãos responsáveis da sua região e deixe o animal seguir o fluxo dele em segurança. Assim, todos saem ganhando. Nós vamos conversar mais sobre esses encontros inusitados em um outro momento....


Voltando..


A luta não pode parar

Como todo animal que vive no Brasil, o jacaré-coroa, segue de maneira resiliente, tentando sobreviver um dia de cada vez. Sabemos tão pouco sobre essa fascinante espécie, também símbolo da diversidade do nosso território.


Investir em estudos sobre os impactos da destruição do meio ambiente, conscientizar as grandes e pequenas populações, ainda são as melhores ferramentas na luta contra a extinção de tantas espécies. Com o P. trigonatus não seria diferente!


Juntos podemos fazer a diferença. Vamos conhecer mais sobre a nossa fauna e flora. A educação ainda é a melhor saída.


Não vamos desistir! Estamos juntos nessa?

 

O Projeto Caiman é uma realização:

- Instituto Marcos Daniel; @imdbrasil

- Projeto Caiman; @projetocaiman


Parceira:

- Instituto Últimos Refúgios; @ultimosrefugios


Texto:

- Bruna Eleutério; @artedevet

- Fernando Paulino; @inando.bio


Ilustração:

- Fernando Paulino; @inando.bio


Fotografias:

- Igor Joventino roberto;

- Pedro Senna Bittencourt;


Agradecimentos:

- Crocodyliabrasil; @crocodyliabrasil

- Marcelo Renan Santos; @mrenansantos


Patrocínio:

- ArcelorMittal Tubarão; @arcelormittaltubarao


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